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Conhece a História Real por trás da série "Glória" da RTP e Netflix

Diogo Fernandes, 9 de agosto de 2023 16:51

Com texto de Pedro Lopes e realização de Tiago Guedes, Glória é o primeiro projeto original da Netflix em Portugal, fruto da colaboração entre a RTP e a produtora SPi. Esta produção chega com a promessa de dar que falar em todo o mundo, inspirando-se na nossa história para nos transportar até aos anos sessenta, onde Portugal se torna um cenário improvável para os eventos da Guerra Fria.

Qual a história real por detrás da série Glória?

O antigo posto de transmissão da RARET, que durante vários anos colocou no ar a emissão da rádio Free Europe, é o facto real que orienta a história de João Vidal, o protagonista central da narrativa. Este jovem engenheiro, com ligações ao regime fascista do Estado Novo no seu passado, é recrutado pela KGB, a principal organização dos Serviços Secretos da União Soviética nos anos sessenta, para executar missões de alto risco que podem colocar Portugal numa posição delicada e ter consequências à escala global.

A disseminação de mensagens anticomunistas para os países de Leste é apenas um dos pontos de partida para as funções de João, enquanto agente da organização em solo português, colocando-se em risco para se envolver numa Guerra para a qual o governo português demonstrava uma posição neutra nos registos oficiais.

Em 1951, a vida na pequena localidade de Glória do Ribatejo, situada em Salvaterra de Magos, sofreu uma reviravolta com a instalação do posto da RARET. Este posto, sigla para a Radio American Retransmission no original em inglês, foi implementado pelos Estados Unidos da América e, ao longo de mais de quarenta e cinco anos, revolucionou a vida da população local, dividindo-a em grupos totalmente distintos.

Conforme os registos da época indicam, chegaram a ser empregues mais de quinhentas pessoas no complexo, sem que inicialmente tivessem pleno conhecimento do que faziam. Para aqueles que lideravam o posto, o objetivo determinado pelas altas patentes era claro: almejavam atingir a chamada Cortina de Ferro, transmitindo mensagens que confundiam o Leste Europeu, dominado pelo comunismo iniciado anos antes por Lenin.

O projeto da RARET surgiu de um acordo entre Portugal e os Estados Unidos, tendo a Herdade de Nossa Senhora da Glória sido escolhida para albergar a rádio. Num primeiro momento, a emissão estava limitada a apenas cinco horas, contando com tradutores contratados dos Países de Leste para assegurar que a mensagem pretendida sobre os acontecimentos deste lado da Cortina de Ferro chegasse aos seus ouvintes exatamente como pretendido.

O tempo trouxe uma enorme evolução ao projeto que começou como uma rede de transmissão. Esta evolução deu-se tanto em termos técnicos, com a implementação de vários transmissores potentes que evitavam que as ondas de rádio fossem sobrepostas pelas estações vindas da Rússia, com sinais muito mais fortes, como também na expansão física.

Campos desportivos, piscinas, habitações para funcionários, um colégio e uma clínica com maternidade foram construídos, criando um mundo próprio dentro daquela área, em contraste com a realidade circundante da vila. A educação foi um dos principais impulsionadores desta mudança, oferecendo ensino gratuito e aulas para as raparigas locais, sempre com os ideais do Estado Novo a orientar uma formação formatada para os ideais ultra nacionalistas promovidos pelo governo de António de Oliveira Salazar.

Dentre os vários eventos ocorridos no espaço da RARET, talvez o mais marcante tenha sido a explosão de maio de 1985, que, apesar de não ter causado feridos, destruiu parte do material, às vésperas da visita de Ronald Reagan, na altura Presidente eleito dos Estados Unidos da América. O fim do sonho ideológico reivindicado pela CIA nos anos sessenta, que ingenuamente acreditava que a propaganda seria a solução para promover uma revolução pela Liberdade do comunismo, chegou com a queda do Muro de Berlim.

Apesar da vitória histórica, o fim das transmissões da RARET não teve o brilho da glória. Sem um motivo fundamental para continuar a emitir, a rede de transmissão foi desmantelada e o equipamento foi entregue à Junta de Freguesia, acabando por ser vendido como sucata local. Atualmente, segundo o jornal O Mirante, o complexo com mais de 200 hectares está abandonado.

O projeto explora eventos históricos do país durante a Guerra Fria, oferece uma visão única e cativante da história de Portugal num contexto internacional.

Não percas já disponível na Netflix, e a partir do dia 21 de agosto Glória na RTP.



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