Ao mergulhar na experiência cinematográfica de "Soares é Fixe", deparei-me com uma narrativa que, infelizmente, carece de alguns elementos cruciais para proporcionar uma experiência envolvente e enriquecedora. O diálogo monótono permeia todo o filme, contribuindo significativamente para a falta de emoção percebida nas interpretações dos atores. Este elemento, fundamental para cativar o público, foi lamentavelmente subutilizado, deixando uma lacuna emocional na trama.
Outro ponto a destacar é a ausência de contextos históricos. Apesar de sabermos que o filme se desenrola entre a 1ª e a 2ª volta das eleições presidenciais de 1986, existem momentos em que não conseguimos acompanhar exatamente o que está a acontecer, visto que somos por vezes transportados para o passado sem aviso prévio, ficando ao encargo do espetador decifrar em que época se encontra. Nessas ocasiões, torna-se difícil perceber a necessidade dessas incursões ao passado para o desenvolvimento futuro da narrativa. Aqui, a importância de conhecer a história de Portugal desde a era de Salazar torna-se essencial para uma compreensão mais profunda do enredo e a razão por trás das significativas mudanças ocorridas em Portugal naquela época. Após assistir ao filme, persiste a incerteza sobre a verdadeira importância desses momentos na história portuguesa e como moldaram os eventos que culminaram nos dias atuais.
Uma limitação orçamental evidente não se restringe apenas à produção, mas também à execução de cenas com transições temporais. A falta de recursos impactou a clareza dessas mudanças, deixando o espetador, por vezes, perdido e desconectado da narrativa. Este é um desafio comum em produções com orçamentos restritos, no entanto, a forma como essas limitações afetaram a experiência global do filme não pode ser ignorada.
A representação de Mário Soares como personagem principal levanta questionamentos pertinentes. A ausência de características que indicassem a sua vontade de vencer, aliada à falta de narcisismo, emoção e resistência à derrota, foram notáveis. A representação do protagonista suscita dúvidas sobre a precisão histórica do retrato apresentado, deixando em aberto como alguém aparentemente desprovido de ambição alcançou a presidência.
A ausência de contexto histórico agravou essa lacuna. Embora Mário Soares possa ter tido razões para agir da maneira retratada, a falta de informação sobre os eventos que o levaram àquela desmotivação total tornou-se um obstáculo à compreensão do público. O equilíbrio entre retratar a realidade e oferecer uma narrativa envolvente é desafiador, e "Soares é Fixe" parece ter perdido essa oportunidade.
A estratégia de marketing do filme suscita reflexões sobre o seu direcionamento. Ao parecer focar-se apenas num nicho restrito de entusiastas de história e pessoas com mais de 50 anos aficionadas por política, o filme pode ter limitado o seu alcance e apelo. Como amante de cinema, senti que a falta de envolvimento emocional na narrativa dificultou a apreciação do filme no contexto mais amplo do cinema.
Surpreendentemente, o filme destaca-se positivamente nos aspetos técnicos. A qualidade da imagem e do som permaneceu consistente ao longo da projeção, proporcionando uma experiência audiovisual agradável. No entanto, é crucial notar que o sucesso técnico não pode compensar totalmente as deficiências na narrativa e na representação dos personagens.
Comparando "Soares é Fixe" com futuros lançamentos, como "Revolução (Sem) Sangue", surge a esperança de uma abordagem mais equilibrada na adaptação de eventos históricos portugueses para o cinema. Espero que este próximo filme consiga superar as limitações percebidas em "Soares é Fixe" e ofereça uma narrativa mais envolvente, informativa e acessível, transcendendo fronteiras e cativando um público mais amplo.